sábado, 30 de janeiro de 2016

DIFERENÇA ENTRE GARÇOM E ATENDENTE

Texto: Juliano Lanius

Na postagem “Garçom pela primeira vez”, comentei um pouco sobre a diferença entre Atendente e Garçom. Pois bem, estas duas funções são exercidas em estabelecimentos de alimentos e bebidas, contudo com especificidades diferentes. Com o passar dos anos, descobri, por mim mesmo, que um Atendente pode até exercer algumas funções de Garçom, e vicer-versa, mas o conhecimento necessário para exercer a profissão de Garçom é um pouco mais amplo. Vejo a profissão de Atentende um tanto quanto generalizada. O atendimento pode ser referente a qualquer produto, contudo o Garçom especializa-se no cardápio do estabelecimento onde trabalha.

O fato de saber equilibrar uma bandeja e servir algum tipo de alimento e/ou bebida não qualifica um profissional de atendimento como Garçom. E de maneira nenhuma a intenção deste post é desqualificar qualquer uma das profissões em detrimento de outra, mas sim esclarecer que ser Garçom envolve outras habilidades, às vezes despercebidas por muitos. Servir à francesa, inglesa direta, à americana… ou o simples fato de saber onde se localizará cada objeto à mesa, que lado se serve a bebida, como um prato deve ser retirado. Para abrir um vinho por exemplo, existe um procedimento, uma regra, que só quem é realmente treinado e tem esse conhecimento consegue executar de maneira correta. Essa é a diferença entre Garçom e Atendente. O Garçom é detentor de todo esse conhecimento, e isso requer estudo e dedicação (https://clientenorestaurante.wordpress.com/2013/07/15/garcom-ou-atendete/).

“Atendente: atua com atendimento ao cliente, recepciona, apresenta os produtos, realiza a organização de prateleiras, estocagem e organização do local. Faz a recepção de mercadorias e esclarecimento de dúvidas. Zela pelo bom atendimento, eficiência e produtividade. Cumpre as normas e procedimentos, realiza a precificação de produtos e reposição de mercadorias” (http://www.catho.com.br/profissoes/atendente/).

TURISMO ERRANTE

Texto: Juliano Lanius
Imagens: Arquivo pessoal do autor

Quando saímos para uma viagem, ou em busca de um itinerário fora de nossa rotina, na realidade estamos à procura de algo que nem nós mesmos sabemos o que é. Uma mistura de estímulos sensitivos toma conta de nosso ser quando partimos ao desconhecido, como se conhecer algo novo não acontecesse regularmente. E realmente não acontece. Contudo, mesmo quando estamos longe, buscamos nos sentir em casa. Esta errância constante é o que nos move em busca da auto residência. Queremos um lugar que seja adequado aos nossos valores, porém, não nos permitimos adequar aos valores dos locais visitados.

É como olhar o pôr do sol da janela do hotel ao invés da praça onde os moradores sentam para tomar chimarrão e jogar xadrez.
Muitas vezes, planejamos uma viagem já com o foco na do próximo ano. Estamos em constante desafeto com o que temos. Nossa sede se tornou de conhecimento. Mas não o conhecimento racional, que se faz uso quando necessário e nos imprime o caráter e o jeito de ser, e sim o conhecimento superficial. Somente nos basta conhecer o local, estar lá, e não saber como vivem as pessoas de lá. É a síndrome do “eu estive lá” invadindo os mais remotos cantos do nosso planeta. Quem nunca viu ou teve uma camiseta com um coração vermelho bem grande acompanhado do nome de um lugar famoso que visitou?

E quem nunca tirou foto com poses obscenas em estátuas fora do país? Pois é, eu já.
Ficar inerte tornou-se sinônimo de desatualização e mesmice. O novo, o desconhecido e o imprevisível formatam o objetivo da busca incessante por novos horizontes. Contudo, há de se perceber a flutuabilidade das informações que possuem os errantes de espírito. Suas crenças nunca estão de acordo com seus ideais e parece que o mundo todo deve a eles um momento de identificação. Muitos errantes o são por falta de caracterização de suas identidades. Não enxergam o próprio reflexo em nenhum lugar e em nenhuma cultura. Portanto, vagueiam tentando encontrar algum semelhante por aí. E, também, se ficarem estagnados, correm o risco de perder as forças que os impulsionam nesta busca pelo seu verdadeiro eu. Bem pudera, com a miscigenação implícita dentro dos mais conservadores clãs, grupos, tribos, famílias, sociedades, etc., fica difícil de autonomear-se descendente desta ou daquela origem.

Nesta busca incansável pela própria identidade, o errante é apresentado a vários estilos de vida, para que escolha aquele que se pareça mais com seus valores e com suas crenças. O marketing de venda dos produtos turísticos o faz crer que este resort, aquele parque aquático ou aquela praia maravilhosa foi tudo o que ele sempre sonhou. Não se trata mais de ir em busca do que se quer, mas sim de aceitar que os outros digam o que queremos ou não fazer. Os turistas errantes se deixam levar pelo sentimento de desejo que certos produtos, bens e serviços despertam. Não se dão mais ao trabalho de idealizar um destino, apenas compram um roteiro e tentam encontrar algo parecido com o que procuravam.

Não percebemos que, onde quer que estejamos, os passeios são os mesmos...

...os bares têm a mesma função e os táxis também são amarelos...

...só muda o idioma...

e, consequentemente, a maneira de se comunicar.
Vivemos em um mundo totalmente consumista, em que o status se mede através do número de vezes que se foi ao exterior. Não se pergunta às pessoas que viajam sobre o que aprenderam no tempo em que estiveram em algum local, ou como o povo autóctone se vê em relação ao recebimento de turistas, sobre a exploração de seu local de residência. Pergunta-se, sim, se existem lugares bonitos, com gente bonita, boa bebida, boa comida e interesses afetivos. Queremos possuir as coisas, usar delas e depois as descartar. Nascemos assim e morreremos assim. Produzimos para consumo próprio. Queremos ser consumidores do maior número e variedade de produtos possível. Produz-se tanto e com tanto rapidez que nossos armários e estantes já não comportam mais tantas bugigangas. O mesmo se dá nas viagens. Fizemos algumas que, se não nos esforçarmos, nem lembramos como foi. O simples fato de ter consumido tal produto ou ter visitado tal lugar é o que nos satisfaz. Usufruímos e descartamos. Por isso, nossa inconstância prazerosa. Sentimo-nos bem em sentir desejo, em ter ou ser sempre mais. Então, escolhemos lugares diferentes a cada ano, de preferência mais longe que no ano anterior. Quando alguém viaja sempre a um mesmo local é sinal de pertencimento. O indivíduo se sente em casa naquele local. E é isso que faz com que volte. Mas não queremos voltar, já usamos o produto, agora só nos resta jogá-lo num baú de memórias remotas que, talvez, nunca voltem a ser resgatadas.

Entediamos-nos muito fácil. Esse mundo de opções e oportunidades que nos envolve nos faz acreditar que o que estávamos consumindo há minutos atrás já caiu em desuso. Crianças, por exemplo. Minha mãe conta que, em sua infância, possuía duas bonecas somente, que foram as mesmas durante toda a fase infantil. Hoje em dia, no quarto de uma criança de classe média, somente resta o espaço da cama, pois os cantos estão tomados por tralhas que a criança nem lembra ou nem sabe que existem. Mesmo assim, no próximo Natal sempre vem outra enorme caixa que vai ser descartada quando a próxima coleção do Hot Weels for lançada. Turistas também são assim. Se viajam uma vez a Nova Iorque, se acham no direito de explicar como se chega a Times Square ou na Estátua da Liberdade. Mas saber como é o estilo de vida dos moradores “anônimos” desta cidade nem fazia parte dos planos quando comprou o pacote da viagem. Volta para casa cheio de sacolas, já pensando em renovar o guarda-roupa na próxima estação. Mas, desta vez, em Paris.

Estamos sempre navegando nesse imenso mundo de opções.
Talvez este seja o real objetivo. Validar o mínimo possível nosso prazer pessoal. Muito rápido nos sentimos satisfeitos, porém mais rápido ainda se vai nosso contentamento. Nos é retirado o gozo de momentos que poderiam ser realmente importantes como se tira o pirulito da boca de um bebê. Aí, choramos, até que nos seja ofertado outro pirulito. Assim, seguimos na busca por momentos fictícios de prazer, instantâneos e estáticos. Nossas lembranças apenas acentuam o sentimento de falta e de necessidade. E lá vamos nós outra vez.

Somos apresentados a tantas possibilidades e sensações diferentes que ficamos indecisos qual delas nos faz melhor. Não se faz necessária a satisfação dos nossos desejos, mas sim a oferta de novas tentações, para que nosso espírito inquieto e consumidor seja novamente cutucado e desperte numa ânsia por mais alguns momentos de êxtase. Somos viciados em busca de mais uma dose. Quando passa o efeito, caímos em depressão e apatia e, então, saímos à procura de algo novo, de novo.

Estas sensações não são o justo fato de ter o que se quer ter, e sim estar em busca do novo. Este momento de transição entre o que se tinha ou onde se estava e o que ainda há de vir é o que nos causa euforia. A própria procura, a instabilidade, a insegurança em não sabermos o que nos espera é a mola propulsora de nosso nomadismo social. Jogar-se na aventura do descobrimento e da mudança é o que nos faz feliz. Estar em busca, e não alcançar. Querer, e não ter. Isto sim, nos dá um frio na barriga e nos engrandece a alma.
No âmbito turístico, a viagem em si se torna o atrativo. Ao contrário da máxima por todos conhecida, os meios justificam os fins. O destino pode até parecer interessante, mas a expectativa da viagem e a realização do percurso se fazem mais importante quando tratamos do desejo. O destino final já fora conquistado. E agora? O que fazer se já estamos aqui? A busca se acabou? Não. Tiramos algumas fotos para mostrar à família, afinal de contas, temos que apresentar provas documentais de nossas andanças sem motivo algum. Então, retornamos ao lar para, mais adiante, desbravar outros confins e nos deleitarmos com novas e velozes sensações.